Prorrogação de Prazo - Dossiê Temático: Patrimônio Cultural, Turismo e Desenvolvimento Regional
O patrimônio cultural e seus processos de conservação, restauração, reabilitação e/ou ressignificação dotam os bens culturais de uma diversidade de usos que tem sido apropriado pela economia da cultura através do consumo turístico desses bens.
Esse fato permite perceber o patrimônio cultural como um potencial recurso para o desenvolvimento regional, seja nas dimensões cultural, social, política e, principalmente, econômica, considerando suas interfaces com a atividade turística. Mas também traz reflexões importantes e urgentes sobre a gestão e o uso da cultura como este recurso, suas potencialidades, limites e riscos, considerando a construção coletiva e geracional destas identificações culturais (Yúdice, 2004).
A incorporação do patrimônio cultural na e pela sociedade revela a medida da sua abrangência e da importância do lugar que atualmente ocupa na estrutura social. A medida disso pode ser dada pela chamada inflação patrimonial (Choay, 2006) nos países europeus e pela crescente apropriação do patrimônio histórico no Brasil como instrumento de promoção das regiões que o valorizam.
As últimas décadas do século 20 foram marcadas pelo expressivo interesse pela história. “A demanda social da história nunca esteve tão forte, a memória – ou seja, a presença do passado – nunca foi parte tão integrante de nossa cultura, nem tão valorizada” (Rousso, 1997, p.26). Em se tratando de passados presentes, há muitas e diversas memórias que constroem e questionam as narrativas contemporâneas cristalizadas em bens culturais; a disseminação geográfica da cultura da memória é tão ampla quanto é variado o uso político da memória que se reflete no patrimônio.
Nesse sentido, Michael Pollak (1992) destaca que os objetos materiais, tais como monumentos, museus e bibliotecas, são espaços privilegiados, porque solidificam as memórias. São como pontos de referência que dão indícios de uma época passada. Assim, o papel do patrimônio seria de fundamental importância na função de resguardar uma memória predominante.
O dispositivo do patrimônio implica em relações de poder. Na medida em que, no desenvolvimento das sociedades contemporâneas, os indivíduos se vinculam a uma determinada identidade - seja étnica, nacional etc., é cada vez mais estratégico que estabeleçam relações pessoais ou coletivas, ligadas tanto a questões afetivas e emocionais quanto a econômicas e de consumo (Sant’anna, 2014).
No Brasil, a partir dos anos 1970, a democracia reacende um debate sobre identidade cultural representada pelo patrimônio (Chuva, 2012). A Constituição Federal de 1988 traz novas perspectivas sobre o conceito de patrimônio, sugere novas práticas de preservação e abre as discussões sobre as formas de se fazer turismo que envolvem o patrimônio cultural (Brasil, 1988). Ora, se as noções sobre patrimônio cultural mudam ao longo do tempo, mudam também, as apropriações, usos e a gestão pública deste patrimônio pela sociedade. Uma dessas agências é feita pelo turismo que, percebe as práticas culturais e o patrimônio cultural como potencialidades para o campo. Segundo o Ministério do Turismo, “os aspectos da pluralidade e da diversidade cultural, representam para o turismo a oportunidade de estruturação de novos produtos turísticos [...] capaz de promover e preservar a cultura brasileira (Ministério do Turismo, 2010, p. 11).
Ainda que esta afirmação necessite ser problematizada, o fato é que nos últimos anos, novos produtos turísticos envolvendo os bens culturais contribuem para “consolidar o turismo como um eixo estratégico efetivo de desenvolvimento econômico do País (PNT, 2022, p. 15), destacando-se por sua diversidade de recursos naturais e culturais (PNT, 2022, P. 43). Nesse sentido, a valorização do patrimônio cultural e seu aproveitamento como atrativo turístico, perpassa pela organização das comunidades, onde os bens culturais e naturais estão assentados (PNT, 2022, p.103).
Tendo em vista as demandas contemporâneas por compreender a complexidade das relações entre os temas apresentados é que justificamos a proposição do Dossiê. Nesse sentido, contamos com pesquisas que contemplem a dimensão do patrimônio cultural e seus usos pela atividade turística bem como o impacto dessas práticas no desenvolvimento das inúmeras regiões do Brasil e fora dele.
Organizadores (as):
Dra. Daniela Pistorello, Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), Brasil
Dr. José Manoel Lopes Cordeiro, Universidade do Minho (UMinho), Portugal
Dra. Patrícia de Oliveira Areas, Universidade da Região de Joinville (Univille), Brasil
Prazos:
Encaminhamento de trabalhos: até 20 de Janeiro de 2024
Avaliação pelos/as pareceristas: até 01 de abril de 2024
Revisão dos manuscritos pelos/as autores/as: até 15 de abril de 2024
Publicação: maio de 2024
Referências
BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo Cultural: orientações básicas. / Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação-Geral de Segmentação. – 3. ed.- Brasília: 2011.
BRASIL. Ministério do Turismo. Plano Nacional de Turismo: 2018-2022 :Mais emprego e renda para o Brasil. Brasília: 2015.
CHOAY, François. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2006.
CHUVA, Márcia. Por uma da história da noção de patrimônio cultural no Brasil. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. N. 34, p. 147-165. Brasília: 2012.
CHUVA, Márcia. Por uma história da noção de patrimônio cultural no Brasil. Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, n. 34, p. 147-165, 2012.
CHUVA, Márcia. Por uma história da noção de patrimônio cultural no Brasil. Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, n. 34, p. 147-165, 2012.
Por uma história da noção de patrimônio cultural no Brasil. Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, n. 34, p. 147-165, 2012
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos. Fundação Getúlio Vargas, v. 5, n. 10, p. 200-212. Rio de Janeiro: 1992.
SANT’ANNA, Márcia. Da cidade-monumento à cidade documento. A norma de preservação de áreas urbanas no Brasil. Salvador: Oiti Editora, 2014.
ROUSSO, Henry. Usos do passado na França de hoje. In: Von Simson, Olga de Moraes (Org.). Os desafios contemporâneos da história oral. Campinas: Centro de Memória: Unicamp, 1997.
YÚDICE, George. A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Trad. Marie-Anne Kremer. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004.