GT71: Quando o interior é centro: formação de professores de arte no interior e nas periferias
Resumo
Para além das diretrizes nacionais que regulam os cursos de licenciatura no país e dos núcleos produtores da literatura de maior distribuição sobre formação inicial docente, a proposição deste GT busca perguntar-se: como se dá a formação de professores de arte no interior do país e nas diferentes periferias? A interrogação é suscitada pelas nossas vivências com a formação inicial de docentes de artes visuais em diferentes contextos da região sul do Brasil, em localidades distantes dos principais centros geográficos, econômicos, culturais, políticos ou, ainda, que estão nas bordas das academias de maior vulto. Mesmo que estejamos na região Sul, onde, junto à região Sudeste, estão concentrados 91% dos municípios mais desenvolvidos do Brasil (VILELA, 2018), sabe-se que a formação docente inicial em arte é realizada presencialmente e na modalidade de educação à distância em muitas cidades de médio e pequeno porte. Exercitando uma perspectiva não generalizadora, portanto, perguntamos: por quais processos de tradução, reescrita e recriação passam as principais referências culturais e artísticas difundidas pelos grandes centros? O que é produzido a partir do conhecimento acadêmico e simbólico que vem dos centros, nas periferias? Que recursos, equipamentos culturais e materiais didáticos compõem as aulas e que desafios compõem a docência em arte nas pequenas localidades e de que modo lida-se com a carga hegemônica dos discursos mais divulgados? A partir da nossa atuação em Montenegro e Pelotas (RS), percebemos que o percurso do conhecimento, quando parte das zonas de maior para as de menor visibilidade, pode produzir o apagamento das potências locais por carregar uma pré-validação subjacente. Como exemplos, cabe nossa observação sobre a recorrência de práticas de educação e artes visuais realizadas em contextos interioranos que adotam como referência as práticas culturais oferecidas pelas capitais. Além disso, existem formas de domínio pouco comentadas: os textos da literatura de formação docente em arte são mais oriundos do centro-sul do Brasil (FRADE; ALVARENGA, 2015) e, curricularmente, há grande semelhança entre cursos de licenciatura, mesmo sendo muito distantes geográfica e temporalmente, como é o caso de um dos cursos mais recentes de artes visuais do país, criado na região norte em 2015, que mantém a mesma base teórica do curso mais antigo, no Rio de Janeiro, herdeiro da Academia Imperial de Belas Artes (MOMOLI, 2019). Tendo que todas as cidades e escolas brasileiras necessitam de professoras e professores de Arte, o GT acolherá discussões teóricas, teórico-analíticas e resultados de pesquisa que contribuam com a problematização sobre os desafios da formação em artes nos contextos afastados dos grandes centros e possibilitem a escuta das pequenas vozes e de um conhecimento “outro” (GROS, 2014) com pouco ou quase nenhum espaço nos circuitos acadêmico e artístico, produzidos e sistematizados nos territórios centrais. Por isso, empreendemos as tentativas de alargar as discussões sobre a maneira como os saberes locais e regionais participam da formação docente nas diferentes artes e de investigar movimentos nos quais o interior é centro.Downloads
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