“Eu entrei aqui boazinha”
repercussões sociológicas do aprisionamento na saúde mental das mulheres
DOI:
https://doi.org/10.18616/rdhs.v8i2.10119Palavras-chave:
saúde mental, violência institucional de gênero, estudos sobre prisõesResumo
O presente estudo investiga os impactos da pena de privação de liberdade na saúde mental das mulheres presas em uma unidade penitenciária do nordeste brasileiro. Com isso, busca-se compreender do ponto de vista social como o bem-estar psicológico é afetado no contexto carcerário quando em interação com a violência de gênero e condições de precariedade extrema. Na direção dos objetivos propostos, utilizou-se de pesquisa documental aliada à pesquisa de campo, na qual foram instrumentalizados observação participante de inspiração etnográfica, entrevistas abertas em profundidade e a aplicação de questionários. O conteúdo foi submetido à Análise Crítica Feminista do Discurso (ACFD) para compreensão dos dados coletados com o intuito de promover o deslocamento dos discursos centrados na masculinidade (Lazar, 2007). Em conjunto, adotou-se a ferramenta analítica da Interseccionalidade (Collins, 2022) para compreensão das redes de opressão que estruturam a vivência das mulheres no sistema prisional por conceder um referencial crítico que permite evidenciar como marcadores sociais se articulam de forma cumulativa na construção das desigualdades e discriminações vivenciadas por mulheres encarceradas em um país tão diverso como o Brasil. O trabalho apresenta contribuições ao estudo da saúde prisional feminina e do impacto permanente da prisão no bem-estar mental das mulheres presas.
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