A institucionalização do trabalho de mulheres em hospitais psiquiátricos brasileiros

Pedagogias de gênero e a exploração do “trabalho por amor”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18616/rdsd.v11i1.9577

Palavras-chave:

Hospitais psiquiátricos, memória coletiva, trabalho gendrado

Resumo

Por meio das narrativas de doze mulheres, analisamos os dilemas do trabalho, em seu entrelaçamento com gênero e raça, no maior polo manicomial brasileiro recente. A memória coletiva evidenciou a ideologia patriarcal do “trabalho por amor” e a incompatibilidade do manicômio como local de um ofício amoroso, resultando na tese dos “corpos-fronteira” dessas trabalhadoras, que testemunharam os efeitos do confinamento e da tortura, ao mesmo tempo que se sentiam responsáveis pelas vidas daqueles que “cuidavam”.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcos Roberto Vieira Garcia, UFSCar-Sorocaba

Possui graduação em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1992), mestrado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (2000) e doutorado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (2007). É professor do Departamento de Ciências Humanas e Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) - Campus Sorocaba, professor permanente do PPG em Educação e do PPG em Estudos da Condição Humana, ambos da UFSCar - campus Sorocaba . É coordenador do Grupo de Pesquisa "Saúde Mental e Sociedade" (UFSCAR) e integrante do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids (NEPAIDS/USP)

Referências

AMARANTE. Paulo. Teoria e crítica em saúde mental: textos selecionados – 1. ed. – São Paulo: Zagodoni, 2015.

BARBOSA, Rosana Machin. Presença negra numa instituição modelar: o hospício de Juquery. 1992. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992. Acesso em: 14 jan. 2024.

BARROS, Sônia; BATISTA, L. E.; DELOSSI, M. E.; SCUDER, M. M. Censo psicossocial dos moradores em hospitais psiquiátricos do estado de São Paulo: um olhar sob a perspectiva racial. Revista Saúde Sociedade, São Paulo, vol. 23, nº4, pp. 1.235-47, 2014.

BARROS, Sônia; BICHAFF, Regina. Desafios para a desinstitucionalização: censo psicossocial dos moradores em hospitais psiquiátricos do Estado de São Paulo. São Paulo: FUNDAP: Secretaria da Saúde, 2008.

BASAGLIA, Franco. Escritos selecionados em saúde mental e reforma psiquiátrica / Franco Basaglia; organização Paulo Amarante; tradução Joana Angélica DÁvila Melo. Rio de Janeiro: Garamond, 2010.

BENTO, Maria Aparecida. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray; BENTO Maria Aparecida. Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. 6. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Lei 10.216, 2001. Dispões sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

CARDOSO, Adalberto. A escravidão e a lenta transição para o trabalho livre. In: CARDOSO, A. A construção da sociedade do trabalho no Brasil, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.

COLLINS, Patricia Hill. Se perdeu na tradução? Feminismo negro, interseccionalidade política emancipatória. Parágrafo: Comunicação Social da FIAM-FAAM, v. 5, n. 1, p. 6–17, 29 jun. 2017.

CURIEL, Ochy. La Nación Heterosexual: análisis del discurso jurídico y el régimen heterosexual desde la antropología de la dominación. Bogotá, Colômbia: Brecha lesbica y en la frontera, 2013.

CRUZEIRO DO SUL, 2018. Associação Protetora dos Insanos de Sorocaba completa 100 anos. Disponível em: Associação Protetora dos Insanos de Sorocaba completa 100 anos. Acesso em 18/05/2020.

DAVID, Emiliano de Camargo. Saúde mental e racismo: saberes e saber-fazer desnorteado na/para a Reforma Psiquiátrica brasileira antimanicolonial. Tese de Doutorado. São Paulo: [s.n.], 2022.

FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Zahar, 2022.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

FEDERICI, Silvia. O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. Rio de Janeiro: Elefante, 2019.

FIGUEIREDO, Angela; GOMES, Patricia Godinho. Para além dos feminismos: uma experiência comparada entre Guiné-Bissau e Brasil. Estudos Feministas, Florianópolis, 2016.

FLAMAS. Levantamento de indicadores sobre os manicômios de Sorocaba e região, 2011. Disponível em: https://flamasorocaba.wordpress.com/dossie-dos-manicomios/. Acesso em 14 jan. 2024.

FLAMAS. Termo de ajustamento de conduta – Sorocaba, 2013. Disponível em: https://flamasorocaba.wordpress.com/termo-de-ajustamento-de-conduta-sorocaba/. Acesso em 14 jan. 2024.

FOUCAULT, Michel. “Aula de 19 de março de 1975”. In: Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975 – 1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999. – (Coleção Tópicos).

GARCIA, Marcos R. Vieira. A Mortalidade nos Manicômios da Região de Sorocaba e a Possibilidade da Investigação de Violações de Direitos Humanos no Campo da Saúde Mental por Meio do Acesso aos Bancos de Dados Públicos. Psicologia Política. São Paulo, v. 12, n.23, p. 105-120, 2012.

GELEDÉS. Lista com nomes de navios negreiros escancara cinismo dos comerciantes de seres humanos no Oceano Atlântico, 2015. Disponível em: https://www.geledes.org.br/lista-navios-negreiros-cinismo-comerciantes-seres-humanos-oceano-atlantico/. Acesso em 26/09/20.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: HOLLANDA, H. B. Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais Ltda. Edições Vértice, 1990.

KAËS, René. As alianças inconscientes. São Paulo: Ideias & Letras, 2014.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. – 1. Ed. – Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

LUGONES, María. Colonialidade e gênero. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

Referência omitida

Referência omitida

MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. – 4. Ed. – São Paulo: n-1 edições, 2018.

MBEMBE, Achille. O direito universal à respiração. São Paulo: N-1 edições, 2020.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado / Abdias Nascimento. – 3. Ed. – São Paulo: Perspectivas, 2016.

NASCIMENTO, Beatriz. A mulher negra no mercado de trabalho. In: HOLLANDA, H. B. Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.

PASSOS, Rachel Gouveia. De escravas a cuidadoras: a invisibilidade e a subalternidade das mulheres negras na política de saúde mental brasileira. O Social em Questão, Ano XX, nº 38, mai / ago -, 77 – 94, 2017.

PASSOS, Rachel Gouveia. Holocausto brasileiro ou navio negreiro? Inquietações sobre a reforma psiquiátrica brasileira. Argumentum, Vitória, v. 10, n – 3, p. 10 – 23, 2018.

PASSOS, Rachel Gouveia. “Na mira do fuzil”: a saúde mental das mulheres negras em questão. São Paulo: Hucitec, 2023.

PATAI, Daphne. História oral, feminismo e política. São Paulo: Letra e Voz, 2010.

PEREIRA, Melissa de Oliveira. Mulheres e loucura: narrativas de resistência. Rio de Janeiro: Autografia, 2020.

PEREIRA, Melissa Oliveira & PASSOS, Rachel Gouveia. Luta antimanicomial, feminismos e interseccionalidades: notas para o debate. In: PEREIRA, M. O. & PASSOS, R. G. (orgs.). Luta antimanicomial e feminismos: discussões de gênero, raça e classe. – 1. Ed. – Rio de Janeiro: Autografia, 2017.

PORTELLI, Alessandro. História Oral e Poder. Mnemosine Vol.6, nº2, p. 2-13, 2010.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. Clacso, 2005.

RAGO, Luzia. Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade / Margareth Rago. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.

SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. A mulher na sociedade de classes. São Paulo: Expressão Popular, 2013.

SCARCELLI, Ianni Régia. Entre o hospício e a cidade: dilemas no campo da saúde mental. São Paulo: Zagadoni, 2011.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. A virada testemunhal e decolonial do saber histórico. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2022.

SOROCABA/SP. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 10ª Região Administrativa Judiciária, sede da 19ª Circunscrição Judiciária. Pedido Inicial em Ação Civil Pública nº. 0058101-53.2012.8.26.0602 (número de ordem 40777/12), em andamento na Vara da Fazenda Pública de Sorocaba/SP. Protocolo inicial realizado em 14/11/2012. Disponível em: Portal de Serviços e-SAJ. Acesso em 05/04/2023.

SUAREZ, Maria Clara Schnaidman. Apoio matricial em saúde mental na atenção primária: estratégia de resolutividade e satisfação da equipe. Mestrado Profissional em Educação nas Profissões de Saúde, PUC-Sorocaba, 2017

VERGÈS, Françoise. Decolonizar o museu: programa de desordem absoluta. São Paulo: Ubu Editora, 2023.

VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. São Paulo: Ubu Editora, 2020.

VINUTO, Juliana. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, Campinas, SP, v. 22, n. 44, p. 203–220, 2014.

Downloads

Publicado

16-06-2025

Como Citar

GOMES MAZETTO, Tamiris Cristina; VIEIRA GARCIA, Marcos Roberto. A institucionalização do trabalho de mulheres em hospitais psiquiátricos brasileiros : Pedagogias de gênero e a exploração do “trabalho por amor” . Desenvolvimento Socioeconômico em Debate, [S. l.], v. 11, n. 1, p. 95–125, 2025. DOI: 10.18616/rdsd.v11i1.9577. Disponível em: https://periodicos.unesc.net/ojs/index.php/RDSD/article/view/9577. Acesso em: 24 out. 2025.

Edição

Seção

Dossiês Temáticos