Dossiê Temático: Gênero e Políticas Públicas

Autores

Palavras-chave:

Gênero, Interdisciplinaridade, Políticas Públicas

Resumo

O gênero se constitui como um campo consolidado de estudos em diferentes áreas do conhecimento e, como categoria analítica potente, permite interrogar normas que regulam sujeitos e coletividades. Entre outras dimensões de estudo, articula temáticas que evidenciam possibilidades e limites das políticas públicas, nas esferas do reconhecimento e da redistribuição socioeconômica, demonstrando condições de existência à margem de um conjunto de direitos fundamentais.  Partindo de abordagens interdisciplinares e interseccionais, o Dossiê Temático Gênero e Políticas Públicas reúne oito artigos que problematizam a constituição de formas de existência, por meio de análises que priorizam interlocuções entre gênero e políticas públicas em diferentes dimensões, territórios e temporalidades.

Autores e autoras, representantes de quatro regiões do Brasil (norte, nordeste, sul e sudeste), expõem resultados de investigações e de práticas de saúde com minorias marcadas por variadas formas de preconceito, violência e exclusão. Mulheres, mulheres negras, mulheres em hospitais psiquiátricos, crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, população lgbt e crianças sem pai legalmente reconhecido, cada grupo, a seu modo, coloca em cena o papel do Estado na produção, manutenção ou eliminação de seu bem-estar. Nos artigos aqui apresentados, de modo mais ou menos explícito, o papel das políticas públicas é discutido. Convidam-se leitores e leitoras a refletir sobre a relação entre gênero, política e subjetividade.

O artigo intitulado “Sexualidade feminina e práticas de cuidado: contribuições e enfrentamentos decoloniais na atenção básica em saúde”, de autoria de Érica Catarine Ataíde Maia Mercês e Maria Lúcia Chaves Lima, a partir de uma pesquisa-intervenção, analisou as práticas de cuidado relacionadas à sexualidade feminina de usuárias de serviços da Atenção Básica em Saúde. O artigo evidencia a necessidade de ampliar a discussão sobre a sexualidade para um efetivo cuidado às mulheres no âmbito da saúde pública.

Beatriz Maria Alencar Lira e Telma Low Silva Junqueira, no artigo “Violência obstétrica e desigualdades estruturais: análise interseccional de uma audiência pública federal, a partir do feminismo negro interseccional”,  analisaram a primeira audiência pública realizada pela Comissão Especial de Violência Obstétrica e Morte Materna, da Câmara dos/as Deputados/as.

Também, no campo de estudos sobre a violência obstétrica, no artigo “Políticas públicas no âmbito da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (2004): mapeando  ações de prevenção à violência obstétrica”, Sabrina Abreu Dagostin Zanatta e Giovana Ilka Jacinto Salvaro analisaram como as políticas públicas implementadas pelo Estado brasileiro, referentes à assistência à saúde obstétrica e neonatal, vêm se construindo a partir dos princípios e diretrizes apontadas pela PNAISM, desde o ano de 2004.

O artigo “Práticas de cuidado frente a violência sexual contra crianças e adolescentes/jovens na Atenção Primária à Saúde”, de autoria de Marcelly Alpiano Rocha, Jorge Lyra e Camila Martins Vieira, objetivou compreender as práticas de cuidado adotadas por equipes de Saúde da Família (eSF) frente a identificação ou suspeita de situações de violência sexual contra crianças e adolescentes/jovens.

No artigo “A institucionalização do trabalho de mulheres em hospitais psiquiátricos brasileiros: pedagogias de gênero e a exploração do “trabalho por amor””, Tamiris Cristina Gomes Mazetto e Marcos Roberto Vieira Garcia, por meio de narrativas de mulheres, analisaram os dilemas do trabalho, em seu entrelaçamento com gênero e raça, no maior polo manicomial brasileiro recente.

Eduardo Steindorf Saraiva, Mariluza Sott Bender e Richard Ecke dos Santos, no artigo “Experiências amorosas, conjugalidade, gênero e sexualidade entre jovens LGBT+ do interior do Rio Grande do Sul”,  investigaram o discurso produzido por jovens LGBT+ acerca de seu cotidiano amoroso e sexual, marcado por preconceitos, estigmas e perspectivas normativas, denunciando o lugar social em que gays e lésbicas são alocados pelo discurso hegemônico e como isso afeta a perceção acerca de si mesmos.

No artigo “Com quantos “Eus” se faz um “Nós”? Grupos LGBTQIA+ como estratégia ético-política para o enfrentamento de violências culturais e seus efeitos subjetivos”, Gelberton Vieira Rodrigues e Patricia Porchat trataram da mediação de grupos LGBTQIA+ sob uma perspectiva psicanalítica articulando gênero, sexualidade e crítica social. O dispositivo de grupos de acolhimento emerge como uma forma potente de cuidado, capaz de produzir narrativas que transformam a sociedade através da desconstrução de normas que geram sofrimento dessa população.

Finalmente, Anna Paula Uziel, Martha Maria da Silva Andrade, Yuri Santos Sanches Ficher e Juliana Fontes França, no artigo ““Pai Presente” em um país de sub registro: algumas notas”, realizaram uma análise crítica do projeto Pai Presente, proposto pelo Conselho Nacional de Justiça, que tem como eixo principal diminuir a incidência dessa ausência paterna no registro civil.

No conjunto, os artigos mobilizaram abordagens teóricas e metodológicas críticas, estabelecendo diálogos que trouxeram processos de violência e de exclusão, de determinados sujeitos e grupos,  para o centro do debate. Por fim, o dossiê se apresenta como uma contribuição ao campo consolidado de estudos sobre gênero e políticas públicas, assim como abre possibilidades para novas problematizações.

O volume ainda conta com três artigos livres intitulados Modelo de Lewis: um ensaio crítico de Francisco Thainan Diniz Maia; A aplicabilidade imediata do direito à consulta prévia, livre e informada dos indígenas e povos tradicionais brasileiros de Yuri Pereira Gomes; Desafios e oportunidades do turismo sustentável na Amazônia: O caso do município de Novo Airão-AM de Ana Claudia Pedrosa de Oliveira, Cristiane do Nascimento Brandão, Maria Emilia Melo da Costa; e uma resenha intitulada Ultradireita em ascensão: análises, contradições e desafios democráticos de Taiana de Oliveira.

Desejamos a todos e todas uma excelente leitura

 

Organizadoras/es:

Giovana Ilka Jacinto Salvaro – Doutora em Ciências Humanas – Universidade do Extremo Sul Catarinense, Brasil. E-mail: giovanasalvaro@unesc.net.

Patricia Porchat – Doutora em Psicologia Clínica – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. E-mail: patricia.porchat@unesp.br.  

 

Editores/as Chefes:

Ismael  Gonçalves  Alves, Universidade  do  Extremo  Sul  Catarinense.  Programa  de  Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico, Brasil.

Alcides  Goularti  Filho,  Universidade  do  Extremo  Sul  Catarinense.  Programa  de  Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico, Brasil.

Daniela Pistorello, Universidade do Extremo Sul Catarinense. Curso de História, Brasil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Giovana Ilka Jacinto Salvaro, Universidade do Extremo Sul Catarinense

Doutora em Ciências Humanas, Universidade do Extremo Sul Catarinense

Patricia Porchat Pereira da Silva Knudsen, Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Bauru)

Doutora em Psicologia, Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Bauru). 

Referências

Editores/as Chefes:

Ismael Gonçalves Alves, Universidade do Extremo Sul Catarinense. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico, Brasil.

Alcides Goularti Filho, Universidade do Extremo Sul Catarinense. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico, Brasil.

Daniela Pistorello, Universidade do Extremo Sul Catarinense. Curso de História, Brasil

Downloads

Publicado

16-06-2025

Como Citar

JACINTO SALVARO, Giovana Ilka; PORCHAT PEREIRA DA SILVA KNUDSEN, Patricia. Dossiê Temático: Gênero e Políticas Públicas. Desenvolvimento Socioeconômico em Debate, [S. l.], v. 11, n. 1, p. 1–4, 2025. Disponível em: https://periodicos.unesc.net/ojs/index.php/RDSD/article/view/9770. Acesso em: 24 out. 2025.